Essas palavras precisam ser explicadas. Porque qual é o tema da recepção da Torah relacionado com a libertação da morte? Além disso, uma vez que eles tenham atingido um corpo eterno que não pode morrer, através da recepção da Torah, como eles poderiam perdê-lo novamente? O eterno pode tornar-se ausente?
Para entender esse conceito sublime – `libertação do anjo da morte', devemos primeiro entender o conceito como ele normalmente é compreendido pela humanidade.
É um ponto de vista comum que a liberdade seja uma lei natural, que se aplica a todos os seres vivos. Então, podemos ver que animais que caem em cativeiro morrem quando sua liberdade lhes é tirada. E isso é uma prova de que a Providência não aceita a escravidão de nenhuma criatura. Não é à toa que a humanidade lutou, nos últimos séculos, antes que tivesse atingido uma certa porção de liberdade individual.
Ainda assim, o conceito expresso pela palavra `liberdade', permanece obscuro. E se nós nos aprofundarmos na essência dessa palavra, não sobrará quase nada. Porque antes que você procure pela liberdade individual, é preciso considerar que qualquer indivíduo, por si mesmo, tem essa qualidade chamada liberdade, o que significa que ele pode agir de acordo com sua livre escolha.
Porém, quando examinamos os atos de um indivíduo, somos levados a considerá-los compulsórios. Ele é compelido a praticá-los, sem liberdade de escolha. De um certo modo, ele é como um ensopado, cozinhando no fogão; ele não tem outra escolha além de cozinhar. A Providência atrelou a vida com duas correntes: prazer e dor. Os seres vivos não têm liberdade de escolha entre prazer e dor, e a única vantagem do homem sobre os animais é que ele pode almejar por um objetivo longínquo. Ou seja, ele pode aceitar uma certa porção de dor, em prol de um futuro benefício ou prazer, a ser atingido após algum tempo.
Mas na realidade, aqui não há mais do que um cálculo aparentemente comercial. Isso significa que o futuro benefício ou prazer parece maior do que a dor ou agonia atual, que a pessoa sente neste momento. Trata-se apenas de dedução, aqui: que a dor seja deduzida do prazer a que se aspira, e ainda sobre algum extra.
Então, somente o prazer é planejado. E assim, pode acontecer que a pessoa se sinta atormentada, porque não encontrou o prazer que esperava, o extra que esperava, por comparação à agonia que sofreu, e por isso, está em déficit. Isso é calculado como os comerciantes fazem.
E após tudo, não há diferença entre o homem e o animal. E assim sendo, não há nenhuma liberdade de escolha, mas somente uma força impulsionadora, atraindo em direção a qualquer prazer transitório, e rejeitando circunstâncias dolorosas. E a Providência conduz as pessoas a cada lugar que ela escolhe por meio dessas duas forças, sem perguntar sua opinião sobre o assunto.
Mesmo a determinação da espécie de prazer ou benefício são inteiramente alheias à livre escolha individual, mas sim, seguem o desejo de outros. Por exemplo: eu me sento, visto, falo, como. Eu não faço tudo isso porque quero sentar desse modo, ou falar desse modo, ou me vestir desse modo, ou comer desse modo. Eu faço assim porque outros querem que eu me sente, vista, fale ou coma desse modo; isto é, de acordo com os desejos da sociedade, e não por minha própria livre escolha.
Além disso, na maioria dos casos, eu faço essas coisas contra minha vontade. Pois eu me sentiria muito mais confortável se me comportasse de um modo simples, sem carregar nenhum fardo. Mas eu estou acorrentado, em cada movimento, aos sabores e maneiras dos outros, que compõem a sociedade.
Então, digam-me, onde está a liberdade de escolha? Por outro lado, se eu partir do pressuposto de que não há liberdade, então nós somos como máquinas, criadas e operadas por forças externas, que as fazem agir como agem. Isso significa que nós todos estamos encarcerados na prisão da Providência, a qual, usando essas duas correntes, nos empurra e puxa conforme sua vontade, para onde ache melhor.
Resulta que aparentemente, não existe uma coisa tal como o egoísmo neste mundo, já que ninguém é livre e nem se sustenta nos próprios pés. Eu não sou o dono dos meus atos, e eu não sou quem os pratica conforme minha vontade, mas eu sou manipulado pelo alto, de um modo compulsório, sem que minha própria opinião seja considerada. Assim, extinguem-se a recompensa e o castigo.
E isso é muito estranho para os ortodoxos, que acreditam na Sua Providência, e podem confiar n'Ele e acreditam que Ele deseja apenas o bem em cada ato. É ainda mais estranho para aqueles que acreditam na natureza, pois como foi dito, todos nós estamos encarcerados pelas correntes da natureza cega, sem consciência ou cálculo. E nós, a espécie escolhida, únicos em mente e conhecimento, tornamo-nos um brinquedo nas mãos da natureza cega, que nos desvia, quem sabe para onde?
Vale a pena tomar algum tempo para compreender algo tão importante, ou seja, como nós existimos no mundo, em termos `egoístas', de modo que cada um de nós olhe para si mesmo como um ser único, agindo de acordo com sua própria vontade, independentemente de forças exteriores, estranhas e desconhecidas. E como esse ser, egoísta, revela-se diante de nós?
Sabe-se que há um vínculo geral entre todos os itens da realidade, que se reúnem sob a lei da causa e efeito. E como o total, assim é cada item, por si mesmo. Isso significa que cada criatura no mundo, dos quatro tipos – inanimado, vegetativo, animado ou falante, está subjugada pela lei da causa e efeito.
E além disso, cada forma particular de um particular comportamento, que uma criatura assume enquanto está neste mundo, é impulsionada por causas antigas, obrigando-a a fazer essa específica mudança de comportamento, e não outra. E isso é evidente para todos os que examinam o comportamento da natureza, sob um ponto de vista puramente científico, sem sombra de dúvida. De fato, precisamos analisar isso, de modo a que possamos examinar a questão por todos os aspectos.
Tenham em mente que tudo aquilo que se manifesta nos seres do mundo, precisa ser compreendido não como existência que surja da ausência, mas como existência que surge da existência, ou seja, que um ente tenha sido extraído de sua forma anterior e tenha assumido sua forma atual.
Assim, precisamos compreender que em cada manifestação no mundo há quatro fatores, que juntos, causam essa manifestação. São eles:
E eu vou explicar um por um.
Se por exemplo, imaginarmos algum estado conceitual em um certo indivíduo, tal como o estado da pessoa ser ou não religiosa, ou extremamente ortodoxa, ou não tão extrema, ou intermediária, nós compreenderemos que esse estado é determinado no homem pelos quatro fatores acima.
O primeiro fator é o leito, que é a primeira substância. Pois o homem foi criado como existência da existência, o que significa, desde as mentes dos progenitores. Resulta assim que em uma certa extensão, ele é como uma cópia de um livro, o que significa que quase todos os assuntos que foram aceitos e alcançados pelos antepassados também são copiados.
Mas a diferença é que isso é uma forma abstrata - assim como o trigo semeado, que é considerado uma semente até que tenha apodrecido e perca sua forma anterior. Assim é o caso da gota de sêmen, da qual o homem nasce: não há nada nela da forma de seus antepassados, mas sim uma força abstrata.
Pois as mesmas idéias que eram concebidas por seus antepassados, tornaram-se meras tendências nele, chamadas instintos ou hábitos, mesmo que ele não saiba por que ele faz o que faz. Pois elas são de fato forças ocultas que ele herdou de seus antepassados, e assim, desse modo, não apenas as posses materiais vêm a nós através da herança de geração em geração.
E daqui emergem várias tendências que encontramos nas pessoas, tais como a tendência a acreditar, ou criticar, a tendência a se apegar à vida material, ou o desejo por ideais, levar uma vida sem exigências, ser mesquinho, cordato, insolente ou tímido.
Pois todos esses aspectos que aparecem nas pessoas não são sua propriedade, que eles tenham adquirido, mas mera herança que lhes foi dada por seus ancestrais. Sabe-se que na mente do homem há um lugar especial, onde residem essas tendências. Ele é chamado a ‘medula oblongata’(o cérebro estendido), ou o subconsciente, e todas as tendências encontram-se ali.
Mas porque os conceitos de nossos ancestrais, adquiridos através de suas experiências, tornaram-se meras tendências em nós, eles são vistos como o trigo semeado, tendo sido despojados de sua forma anterior, permanecendo apenas forças potenciais, destinadas a tomar novas formas. No que se refere ao nosso assunto, essas tendências estão destinadas a tomar a forma de idéias, que são assim consideradas a primeira substância, e esse é o fator primário, chamado leito. Nele residem todas as forças das tendências únicas que o homem herda de seus progenitores, definidas como herança ancestral.
Tenham em mente que algumas dessas tendências vêm numa forma negativa, o que significa o oposto daquelas que estiveram em nossos ancestrais. É por isso que dizem: ‘tudo o que está oculto no coração do pai torna-se evidente no filho'.
A razão para isto é que o ‘leito’ despe-se de sua forma anterior para adquirir uma nova. Assim ele está próximo a negar as formas dos conceitos de seus ancestrais, como o trigo que apodrece no solo despe-se da forma que existiu no trigo. Porém, ele ainda depende dos outros três fatores.
O segundo fator é um condutor direto de causa e efeito, relacionado com o próprio atributo do leito, que não muda. Isso significa que, como esclarecemos quanto ao trigo que apodrece no solo, o ambiente no qual o leito repousa - compreendendo o solo, minerais, chuva, o ar e o sol, - age sobre a semeadura, como dissemos, numa longa cadeia de causa e efeito, através de um longo e gradual processo, passo a passo, até que ele amadureça.
E o leito retomou sua forma anterior, ou seja, a forma do trigo, mas em qualidade e quantidade diferentes. E seu aspecto geral permanece completamente inalterado, pois nem cereal nem aveia crescerão dele. Ele muda em seu aspecto particular em quantidade, pois de uma espiga, resulta uma dúzia ou duas dúzias de espigas, e em qualidade, que é melhor ou pior do que a forma anterior do trigo.
O mesmo acontece com o homem, pois ele, como um ‘leito', é colocado em um ambiente, ou seja, a sociedade. E ele é compelido a ser influenciado por ela, assim como o trigo por seu ambiente, mas o leito não é nada além de uma forma crua. Então, como resultado de seu contato com o meio circundante e o ambiente, ele é influenciado por esses fatores através de um processo gradual, ou uma cadeia de situações, uma a uma, como causa e efeito.
Por essa ocasião, as tendências incluídas em seu leito tomam a forma de conceitos. Se por exemplo, alguém herda de seus ancestrais a tendência a ser mesquinho, quando ele crescer construirá para si mesmo conceitos e idéias, que concluem decisivamente que é bom ser mesquinho. Então, embora seu pai fosse generoso, ele pode herdar dele a tendência negativa para a mesquinharia, pois a ausência é tão hereditária quanto a presença.
Ou alguém pode herdar de seus ancestrais a tendência para ter a mente aberta. Ele constrói para si mesmo idéias e extrai delas a conclusão de que é bom ter a mente aberta. Mas onde ele encontra essas frases e razões? Ele as toma do ambiente, inconscientemente, pois essas opiniões e gostos foram implantados nele em um processo de causa e efeito.
E isso acontece de modo que o homem veja essas opiniões e gostos como dele mesmo, como se ele os tivesse adquirido através de seu próprio raciocínio. Aqui também, assim como acontece com o trigo, há uma parte inalterável do leito que é aquela em que as tendências hereditárias permanecem assim como eram nos antepassados. Este é o segundo fator.
O terceiro fator é um condutor direto de causa e efeito, que o leito atravessa sofrendo modificações. Pois como as tendências hereditárias tornaram-se, no homem, como conceitos, por causa do ambiente, elas tiveram que operar nas direções definidas por esses conceitos. Por exemplo, um homem mesquinho por natureza, no qual essa tendência, por influência da sociedade, tenha-se tornado um conceito, pode entender a mesquinharia através de alguma definição razoável.
Vamos supor que ele se defenda desse comportamento e assim, não terá necessidade de outras pessoas. Resulta que ele atingiu uma escala de mesquinharia, por algum tempo, quando esse temor estava ausente, mas que ele será capaz de abandonar esse traço. Resulta que ele melhorou a tendência original que ele herdou de seus antepassados. E às vezes, alguém é capaz de extirpar completamente uma má tendência. Isso se faz pelo hábito, que tem a virtualidade de se tornar uma segunda natureza.
Nisso, a força do homem é maior do que a de uma planta. Pois o trigo só pode mudar em sua parte privada, enquanto o homem tem a capacidade de mudar através do poder das causas e efeitos ambientais, mesmo nas partes genéricas, ou seja, extirpar inteiramente uma tendência e transformá-la no seu oposto.
O quarto fator é um condutor direto de causa e efeito que afeta o leito, por forças completamente alheias a ele, e opera sobre o leito desde o exterior. Isso significa que essas forças não estão relacionadas com o comportamento do crescimento do leito, ou que ajam diretamente sobre ele, mas sim, que operam indiretamente. Por exemplo, assuntos monetários, tarefas diárias, ou os ventos etc., que por si mesmos têm uma ordem de situações completa, lenta e gradual, ao modo de ‘causa e efeito', que modificam os conceitos do homem para melhor ou para pior.
Então, estabeleci os quatro fatores naturais, de modo que cada um dos pensamentos e idéias, que vêm à nossa mente, não é nada além de seus produtos. E mesmo que a pessoa sente e medite o dia todo, não será capaz de adicionar ou talvez alterar o que esses quatro fatores lhe dão. Qualquer adição que ela possa fazer será em quantidade: se uma grande mente, ou uma pequena, mas em qualidade ela não pode acrescentar coisa alguma. Pois esses fatores determinam o caráter, a forma da idéia e a conclusão obrigatória, sem perguntar nossa opinião. Assim, estamos nas mãos desses quatro fatores, como barro nas mãos do oleiro.
Porém, quando examinamos esses quatro fatores, concluímos que embora nossa força não seja suficiente para enfrentar o primeiro fator, que é o ‘leito', nós ainda temos a capacidade e a livre escolha para nos defendermos contra os outros três fatores pelos quais o leito muda em suas partes individuais. Às vezes, ele se modifica em sua parte genérica também, o que lhe dá uma segunda natureza.
Essa proteção significa que nós sempre podemos melhorar, no que se refere à escolha de nosso ambiente, que são os amigos, os livros, os professores e assim por diante. Como uma pessoa que tenha herdado de seu pai algumas espigas de trigo: ela pode fazer crescer, dessa pequena quantidade de espigas, dúzias de espigas, através de sua escolha do ambiente para o ‘leito’, que será um solo fértil, com todos os minerais necessários e o material que nutre o trigo abundantemente.
Há também a questão do labor na melhoria das condições ambientais, para servir às necessidades da planta em seu crescimento, pois o sábio escolherá as melhores condições e encontrará bênção em seu trabalho, enquanto o tolo aceitará o que quer que veja adiante, e poderá tornar a semeadura uma maldição, no lugar de uma bênção.
Portanto, todo o seu agradecimento e seu espírito dependem do ambiente no qual ele semeie o trigo. Mas uma vez que ele tenha semeado no local escolhido, sua forma é absolutamente determinada pela medida em que o ambiente seja capaz de ajudar.
Esse é o caso de nosso tópico, pois é verdade que o desejo não tem liberdade, mas é condicionado pelos quatro fatores acima. E o desejo é obrigado a pensar e a examinar como eles sugerem, privado de qualquer força de análise ou de mudança, assim como o trigo em seu ambiente.
Porém, há liberdade para o desejo, para que escolha inicialmente um ambiente tal como livros e guias, que lhe tragam bons conceitos. E se a pessoa não fizer isso, mas se quiser, ao contrário, entrar em qualquer ambiente e ler qualquer livro que lhe caia nas mãos, ela estará propensa a cair em um mau ambiente, ou a perder seu tempo com livros sem valor, que são abundantes e fáceis de encontrar, e que lhe conduzem a concepções tolas, a fazem pecar e ser condenada. Ela certamente será punida, não por causa de seus maus pensamentos e atos, sobre os quais ela não tem escolha, mas porque ela não escolheu um bom ambiente, pois como vimos, nisto há definitivamente uma escolha.
Assim, aquele que se esforça para escolher continuamente um ambiente melhor torna-se merecedor de bênção e recompensa. Mas aqui também, não por causa de suas boas ações ou pensamentos, que vêm a ele sem que ele tenha escolhido, mas por causa de seu esforço para adquirir um bom ambiente, que lhe traz esses bons pensamentos e ações. Como disse o Rabbi Yehoshua Ben Prehya: ‘Constitua um Rabino e compre um amigo para si mesmo’.
Assim vocês podem entender as palavras do Rabbi Yossi Ben Kasma (Avot 86), que em resposta a uma oferta para viver em outra cidade, sendo pago por centenas de moedas de ouro, respondeu: ‘Mesmo que vocês me dessem todo o ouro e prata e jóias do mundo, eu só viveria em um lugar de Cabala’.
Essas palavras parecem ser sublimes para a compreensão de nossas mentes simples, pois como pode ser que ele tenha desistido de centenas de moedas de ouro que lhe seriam pagas por uma coisa tão simples, tal como viver em um lugar em que não havia discípulos de Cabala, enquanto ele mesmo era um grande sábio que não precisava aprender de ninguém? De fato, um grande mistério.
Mas como vimos, isto é algo simples que precisa ser observado por todos nós. Pois embora todos tenham ‘seu próprio leito’, as forças não se revelam abertamente, mas sim, através do ambiente em que a pessoa está, de modo semelhante ao trigo semeado no solo, cujas forças só se tornam aparentes através do ambiente, que é o solo, a chuva e a luz do sol.
Então, o Rabbi Yossi Ben Kasma concluiu corretamente que se ele deixasse o bom ambiente que ele havia escolhido e penetrasse em um ambiente potencialmente nocivo, ou seja, um lugar sem discípulos de Cabala, não somente seus conceitos anteriores seriam comprometidos, mas todas as forças, contidas em seu leito, que ainda não se haviam revelado em ação, permaneceriam ocultas. Isso, porque elas não estariam sujeitas ao ambiente correto, capaz de ativá-las.
E como esclarecemos acima, somente no que se refere à escolha da pessoa pelo ambiente, seu domínio sobre si mesma pode ser medido, e por isso ela merece prazer ou punição. Assim, não é tão estranho que um homem sábio como o Rabbi Yossi Ben Kasma tenha escolhido o bem e rejeitado o mal, e não tenha sido tentado por coisas materiais e corpóreas, como se deduz daqui: ‘quando uma pessoa morre ela não leva consigo nem ouro, nem jóias, mas apenas boas ações e Cabala’. E assim advertiram nossos sábios: ‘Constitua um Rabino e compre um amigo para si mesmo’, no que se inclui a escolha dos livros, como mencionamos. Pois somente nisso a pessoa pode ser repreendida ou recompensada, ou seja, em sua escolha pelo ambiente. Mas uma vez que ela tenha escolhido esse ambiente, ela está em suas mãos, assim como barro nas mãos do oleiro.
Alguns sábios contemporâneos, após meditar sobre o tema acima, e tendo visto que a mente humana não é mais que um fruto que se desenvolve a partir dos eventos da vida, chegaram à conclusão de que a mente não tem controle sobre o corpo, mas somente os eventos da vida, impressos nos tendões físicos do controle cerebral, que ativam o homem. E a mente humana é como um espelho que assume as formas à sua frente, de modo que embora o espelho seja o veículo dessas formas, ele não pode ativar ou mover as formas que se refletem nele.
Assim é a mente. Embora os eventos da vida, em todos os seus fatores de causa e efeito, sejam vistos e reconhecidos pela mente, a mente é completamente incapaz de controlar o corpo, de coloca-lo em movimento, ou seja, de aproxima-lo do bem ou afasta-lo do mal, porque o espiritual e o físico são absolutamente distanciados um do outro. E não é possível que haja uma ferramenta intermediária entre eles, que torne a mente capaz de ativar e operar o corpo material, como discutimos extensamente.
Mas quando eles se combinam, eles também são capazes de romper com o exterior. Porque a imaginação do homem lhe serve como um microscópio serve ao olho, sem o qual ele não pode ver nada nocivo por causa de sua proporção minúscula. Mas uma vez que ele tenha visto o fator nocivo através do microscópio, o homem pode se distanciar dele.
Resulta que é o microscópio que leva o homem à ação, para que se distancie do fator nocivo, e não o sentido, pois o sentido não é capaz de detectar esse fator. E nessa medida a mente controla completamente o corpo do homem, para distanciá-lo do mal, e aproxima-lo do bem. Isto é, em todos os lugares em que o atributo do corpo falha em reconhecer o fator como benéfico ou nocivo, ele precisa da inteligência da mente.
Além disso, já que o homem conhece sua mente, como uma conclusão verdadeira tirada das experiências da vida, assim ele pode aceitar a mente e o conhecimento de uma pessoa confiável, e aceitar isto como lei, embora os eventos de sua vida ainda não tenham revelado a ele essas concepções. É como uma pessoa que pede conselho a um médico e o obedece, embora não entenda nada com sua própria mente. Então, a pessoa usa as mentes das outras pessoas, assim como usa a sua própria. Como esclarecemos acima, há dois modos pelos quais a Providência assegura que o homem chegue a um objetivo bom e firme; são eles:
Toda a clareza no caminho da Cabala está vinculada a isto. Pois essas claras concepções que foram reveladas e reconhecidas após uma longa cadeia de eventos nas vidas dos profetas e outros homens de Deus, vêm ao homem que as utiliza plenamente, e se beneficia delas como se esses conceitos viessem dos eventos de sua própria vida. Então, vocês podem ver que a pessoa se libera de todos os sofrimentos que precisa experimentar antes de desenvolver uma mente clara, por si mesmo. Assim ela se poupa tanto do tempo quanto do sofrimento.
Isso pode ser comparado a um homem doente que não obedeça às ordens do médico, antes de entender por si mesmo como esses conselhos poderiam curá-lo, e assim começa a estudar medicina. Ele morrerá de sua doença antes que aprenda a sabedoria da medicina.
Assim é o caminho da agonia, versus o caminho da Cabala. Pois aquele que não acredita nos conceitos que a Cabala e a profecia o aconselham a adotar, mesmo que não compreenda por si mesmo, precisa chegar a essas concepções por si mesmo - ou seja, seguindo somente a cadeia de causa e efeito dos eventos da vida, que são experiências muito rápidas, de modo a desenvolver o sentido de reconhecimento do mal nelas, como vimos, sem a possibilidade de escolha; mas se a pessoa trabalha em adquirir um bom ambiente, ele pode guiá-la para esses bons pensamentos e ações.
Agora chegamos a um entendimento abrangente da liberdade do indivíduo. Porém, isso se refere somente ao primeiro fator, o ‘leito’, que é a primeira substância de todo ser humano, isto é, todas as características que herdamos de nossos ancestrais, pelas quais diferimos uns dos outros.
Pois mesmo quando centenas de pessoas partilham o mesmo ambiente, de um modo que os outros três fatores ajam igualmente sobre elas, não se encontrarão duas pessoas que partilhem o mesmo atributo. Isso é porque cada uma delas tem seu próprio leito. É como o leito do trigo, que embora mude consideravelmente em razão do poder dos três outros fatores, ainda retém a forma preliminar do trigo e nunca assumirá outra forma.
Assim é que cada ‘leito’, que tome a forma preliminar do progenitor e assuma uma nova forma como resultado dos três fatores que lhe foram adicionados, e que, como resultado disto tenha se modificado substancialmente, ainda retém a forma geral do progenitor e nunca adotará a forma de outra pessoa que seja parecida, assim como a cevada nunca parecerá com o trigo.
Então, cada leito representa uma longa cadeia em si mesma, formada por centenas de gerações, e o leito inclui as concepções de todas elas. Mas elas não se revelam nele do mesmo modo como apareceram em seus ancestrais, ou seja, na forma de idéias, mas somente como formas abstratas. Assim, elas existem nele na forma de forças abstratas, chamadas ‘tendências’ ou ‘instintos’, sem que ele saiba suas razões ou por que ele faz o que faz. Então, nunca haverá duas pessoas com o mesmo atributo.
Saibam que está é a única verdadeira posse do indivíduo, que não pode ser prejudicada ou alterada. Pois afinal, essas tendências no leito vão se materializar e tomar a forma de conceitos, quando cada indivíduo se desenvolver e atingir uma mente própria - como resultado da lei da evolução que controla essa cadeia e a empurra adiante. Aprendemos, além disso, que cada tendência emerge para se transformar em um conceito sublime, e valor imensurável.
Assim, aquele que elimina uma tendência de um indivíduo e a erradica, causa para o mundo a perda desse conceito sublime e maravilhoso, que está destinado a se materializar no fim da cadeia, pois essa tendência nunca mais estará em nenhum outro corpo, mas somente naquele, em particular.
Assim nós compreendemos que quando uma tendência particular toma a forma de um conceito, ela não pode mais ser definida como boa ou má. Mas essas distinções podem apenas existir enquanto são ainda tendências, ou conceitos imaturos, e de modo algum elas podem ser reconhecidas quando tomam a forma de verdadeiros conceitos.
Do que foi dito, aprendemos o quão terrível é o erro em que incorrem essas nações que forçam seu domínio sobre as minorias, privando-as de liberdade, da capacidade de viver suas vidas através das tendências que herdaram de seus ancestrais. Elas são consideradas nada menos que assassinas. Mesmo aqueles que não acreditam em religião e em uma condução poderosa podem entender a necessidade de preservar a liberdade do indivíduo, além de preservar os sistemas da natureza. Pois nós podemos ver que toda nação que tenha desmoronado, desmoronou somente em razão da opressão das minorias e indivíduos, que assim se rebelaram contra ela e a arruinaram. Assim fica claro para todos que não pode existir paz no mundo se não respeitarmos a liberdade de cada indivíduo. Sem isso, nunca haverá paz, e prevalecerá a ruína.
Então, definimos claramente a essência do indivíduo com a máxima precisão, após a análise de tudo o que ele toma do público geral. Mas agora precisamos enfrentar a questão: onde, afinal, está o próprio indivíduo? Pois tudo o que dissemos até agora, pode-se tomar como a propriedade do indivíduo, herdada de seus ancestrais. Mas onde está o próprio indivíduo? Onde está aquele que é o sucessor, que exige que guardemos sua propriedade?
Porque apesar de tudo o que foi dito até agora, ainda não encontramos a posição do ‘self’ no homem, que o colocará, perante seus próprios olhos, como uma unidade independente. Mas afinal, o que eu preciso fazer com o primeiro fator, que é uma longa cadeia, composta de milhares de pessoas uma após a outra, de geração em geração, que apresentam a imagem do indivíduo como a de um sucessor? E o que eu preciso fazer com os outros três fatores, compostos de milhares de pessoas, postas uma diante da outra em uma geração? A conclusão final é a de que cada indivíduo não seja mais do que uma máquina coletiva, esperando por ser utilizada pelo coletivo, como lhe parece apropriado. Isto significa que ele se tornou sujeito a duas espécies de coletividade:
E isto de fato é uma questão universal. Por isso há muitos que se opõem ao método natural acima, embora reconheçam sua validade. E eles o substituem por métodos metafísicos, ou dualismo, ou transcendentalismo, de modo a criar para si mesmos a imagem de algum objeto espiritual, e como ele se encaixa no corpo ou na alma. E é essa alma que aprende e que opera o corpo, e que é a essência do homem, seu ‘self’.
Talvez essas interpretações possam tornar as coisas mais fáceis para a mente de uma pessoa, mas o problema é que elas não têm solução científica para dizer como é possível para um objeto espiritual, ter qualquer espécie de contato com átomos físicos, e levá-los a qualquer espécie de movimento. E a sabedoria dessas interpretações não ajuda as pessoas a encontrarem uma ponte que elas possam atravessar essa ampla e profunda fissura que se estende entre a entidade espiritual e o átomo corpóreo. Então, a ciência não ganhou nada com todos esses métodos metafísicos.
Nós precisamos somente da sabedoria da Cabala para nos movermos um passo além daqui, de um modo científico. Pois toda a sabedoria dos mundos está incluída na sabedoria da Cabala. Nós aprendemos, no tema das ‘luzes e vasos espirituais’, que a principal novidade, do ponto de vista da criação, é que Ele criou existência a partir da ausência, o que se aplica a um único aspecto, definido como o ‘desejo de receber’. Todos os outros aspectos da totalidade da criação não são, definitivamente, novidade, pois eles não são existência a partir da ausência, mas existência a partir da existência. Isto é, que eles foram extraídos diretamente da Sua essência, como a luz emana do sol. Aí também, não há novidade, pois a substância do sol se estende além, em direção ao exterior.
Mas o desejo de receber, porém, é uma completa novidade. Isto é, antes da criação, não existia uma tal coisa na realidade, porque Ele não tinha nenhum aspecto de desejo de receber, pois Ele precede todas as coisas, então de quem Ele poderia receber? Assim, esse desejo de receber, que Ele extraiu como existência desde a ausência, é novidade completa. Mas todo o resto não apresenta nenhuma novidade com relação a isto que é chamado a ‘criação’. Então, todos os vasos e os corpos, tanto dos mundos espirituais quanto dos físicos, são considerados substância espiritual ou material, com a natureza de ‘desejar receber’.
E vocês precisam ver além, que nesta força, chamada o ‘desejo de receber’, nós distinguimos duas forças:
A razão para isso é que cada corpo, ou vaso, definido pelo desejo de receber, é de fato limitado, tanto na qualidade daquilo que ele irá receber quanto na quantidade. Assim, toda a quantidade e qualidade que estão fora dos seus limites, parecem ir contra a sua natureza, e por isso ele as rejeita. Então, esse ‘desejo de receber’, embora seja considerado uma força atrativa, é compelido a tornar-se também uma força de rejeição.
Embora a sabedoria da Cabala não mencione nada de nosso mundo corpóreo, há somente uma lei para todos os mundos. Assim, para todas as entidades corpóreas em nosso mundo, significando tudo neste espaço, seja inanimado, vegetativo, animado, um objeto espiritual ou corpóreo, se quisermos distinguir o único, o próprio aspecto de cada uma delas, como elas se diferenciam umas das outras, mesmo na menor das partículas, consistem em nada mais do que um ‘desejo de receber’, que é toda a sua forma particular, do ponto de vista da novidade da criação, limitando-a tanto em quantidade quanto em qualidade, o que induz a presença da força atrativa e da força de rejeição.
Qualquer coisa além dessas duas forças interiores é considerada uma doação da Sua essência. E essa doação é igual para todas as criaturas, pois sendo extensão da existência desde a existência, a criação não traz novidade para ela. E ela não pode ser atribuída a nenhuma unidade particular, mas somente para coisas que sejam comuns a todas as partes pequenas ou grandes da criação. Pois cada uma dessas partes recebe dessa doação de acordo com seu desejo de receber, e sob essa limitação, define-se cada indivíduo ou unidade.
Então provei, por evidências, e de modo científico, o self (ego) de cada indivíduo, com provas sujeitas à crítica completa e científica por todos os lados, mesmo no que se refere ao sistema dos fanáticos materialistas automáticos. Daqui por diante não precisamos mais daqueles métodos estropiados, mergulhados em metafísica.
E naturalmente não faz diferença se essa força, o desejo de receber, é resultado e fruto da estrutura que foi materializada através da química, ou se essa estrutura é resultado e fruto dessa força. Pois sabemos que o principal é que somente essa força, impressa em todo ser e átomo do ‘desejo de receber’, dentro de suas limitações, é considerada a unidade, naquilo em que se separa de seu ambiente. E isso permanece verdadeiro tanto para um único átomo quanto para um grupo de átomos, chamado um corpo.
Todos os outros aspectos, onde há algo além dessa força, não se referem de modo algum a essa partícula ou grupo de partículas, nem sob o aspecto de sua individualidade, nem em geral, o que é a doação, estendida a ela desde Deus, onde há uma matéria coletiva para todas as partes da criação, sem distinção de corpos criados especificamente.
Agora nós entenderemos o assunto da ‘liberdade do indivíduo’ de acordo com a definição do primeiro fator, que nós chamamos de ‘leito’, em que todas as gerações prévias, que são os ancestrais desse indivíduo, imprimiram sua natureza. E como esclarecemos, o significado da palavra individual não é nada além das limitações do ‘desejo de receber’, impresso em seu grupo de partículas.
Então vocês podem ver que todas as tendências que o indivíduo herdou de seus ancestrais não são nada mais que limitações de seu ‘desejo de receber’, tanto pelo lado da força atrativa que existe nele, quanto pelo lado da força de rejeição que existe nele, que aparecem diante de nós como tendências para a mesquinharia ou generosidade, para combinar-se ou permanecer separado e assim por diante.
Por causa disto, essas tendências realmente são seu self (ego), lutando por sua existência. Então, se nós eliminarmos mesmo uma única tendência desse indivíduo particular, será como se nós tivéssemos arrancado um órgão de sua essência. E isso também é considerado uma genuína perda para toda a criação, porque não há outro como ele, nem nunca haverá, em todo o mundo.
Após termos esclarecido suficientemente o direito do indivíduo de acordo com a lei natural, vamos nos voltar para observar o quanto isso pode ser posto em prática, sem comprometer a teoria da ética e da cidadania. E o mais importante: como isso pode ser corretamente aplicado por nossa santa Cabala.
Nossas escrituras dizem: ‘seguir a maioria’. Isso significa que onde quer que haja uma disputa entre o coletivo e o individual, nós somos obrigados a agir de acordo com o desejo do coletivo. Então vocês vêem que o coletivo tem o direito de expropriar a liberdade do indivíduo.
Mas nos deparamos com uma questão diferente aqui, ainda mais grave que a primeira, pois essa lei aparentemente faz a humanidade regredir, em vez de progredir. Porque enquanto a maioria da humanidade ainda está não desenvolvida, e os desenvolvidos são sempre uma pequena minoria, isso quer dizer que se você seguir o desejo da coletividade, que são os não desenvolvidos, e aqueles do coração apressado, as opiniões e desejos dos sábios e desenvolvidos, que são sempre a minoria, nunca serão levados em conta. E assim, sela-se o destino da humanidade para a regressão, pois ela não será capaz de dar sequer um único passo adiante.
No entanto, como foi dito no ensaio ‘A Paz’, sobre a ‘obrigação de respeitar as leis da natureza’, que já que estamos ordenados pela Providência a ter uma vida social, nós nos tornamos obrigados a observar todas as leis que lidam com a manutenção da sociedade. E se nós subestimarmos sua importância, mesmo numa extensão mínima, a natureza vai se vingar de nós, não importa se compreendamos ou não a razão da lei.
E podemos ver que não há outro acordo para viver dentro de nossa sociedade, senão ‘seguir a maioria’, o que põe todas as disputas e tribulações da sociedade em ordem. Então, essa lei é o único instrumento que dá à sociedade o direito de existir. Por isso, essa lei é considerada um dos preceitos naturais da Providência, e nós precisamos aceita-la e guarda-la meticulosamente, mesmo quando não entendermos.
Este é como todos os outros preceitos (Mitzvot) na Torah, que são todas as leis da natureza e de Sua Providência, que vieram a nós de cima para baixo. E já descrevi como toda a inflexibilidade que detectamos na conduta da natureza neste mundo, acontece somente porque é estendida e tomada de leis e condutores dos mundos superiores, espirituais.
Por isso, vocês também podem entender que as Mitzvot na Torah não são mais do que leis e condutores, estabelecidos nos mundos superiores, que são as raízes para todos os condutores da natureza neste mundo, como duas gotas numa piscina. E assim provamos que a lei de ‘seguir a maioria’ é a lei da Providência e da natureza.
Ainda assim a questão sobre a regressão, que resultou dessa lei, ainda não foi resolvida. E de fato estamos preocupados em encontrar caminhos para consertar isto. Mas a Providência, por si mesma, não falta por causa disso, pois ela já envolveu completamente a humanidade de dois modos: o ‘Caminho da Torah’, e o ‘Caminho do Sofrimento’. E isso, de um modo tal, que é uma garantia do contínuo desenvolvimento e progresso da humanidade na direção do objetivo, sem nenhuma reserva. De fato, obedecer a essa lei é um compromisso natural e necessário.
Então precisamos perguntar além, pois as coisas se justificam quando os assuntos envolvem temas entre duas pessoas. Pois então nós podemos aceitar a lei de ‘seguir a maioria’, através da obrigação da Providência, que nos instrui a zelar pelo bem-estar e pela felicidade de nossos amigos. Mas a lei de ‘seguir a maioria’ mantém-se válida na Torah em assuntos que envolvem discussões entre o homem e Deus, embora esses assuntos pareçam ser irrelevantes para a existência da sociedade.
Assim, a questão permanece: como podemos justificar essa lei, que nos obriga a aceitar a opinião da maioria, que é, como vimos, não desenvolvida, e a rejeitar e anular a opinião dos desenvolvidos, que são sempre uma pequena minoria?
Mas como demonstramos, as Mitzvot e a Torah somente foram dadas para purificar Israel, o que significa o desenvolvimento em nós do sentido de reconhecimento do mal, impresso em nós no nascimento, e que de modo geral se define como nosso amor próprio, e para chegarmos ao puro bem, definido como o ‘amor pelo próximo’, que é uma etapa para o amor a Deus.
E os preceitos entre o homem e Deus caem nesse critério, por serem instrumentos da virtude que separa o homem do amor próprio, que é nocivo à sociedade. Fica óbvio então que os tópicos da discussão relativa aos preceitos entre o homem e Deus, relacionam-se com o problema do direito da sociedade a existir. Então, eles também se enquadram no plano geral de ‘seguir a maioria’.
Agora podemos entender o condutor da discriminação entre Halachah (lei judaica) e Agadah (espécie de literatura judaica). Porque somente na Halachah há a lei do ‘individual e coletivo, sendo a Halachah o coletivo’. E isto não é assim na Agadah, porque os temas da Agadah estão acima dos assuntos relativos à existência da sociedade; pois eles tratam exatamente do assunto da condução do povo em temas relativos ao homem e Deus, naquela mesma parte em que a existência e felicidade física da sociedade não têm conseqüência.
Então, não há justificativa para que o coletivo anule a opinião do indivíduo, e ‘todo homem fez o que julgava justo a seus próprios olhos’. Enquanto no que se refere às Halachot (ritual judaico, leis que lidam com assuntos específicos), que lidam com a observação dos preceitos da Torah, elas caem sob a supervisão da sociedade, pois não pode haver outra ordem senão a lei de ‘seguir a maioria’.
Assim chegamos a um claro entendimento da afirmação da liberdade do indivíduo. Porque de fato é de se perguntar aonde o coletivo tomou o direito de expropriar a liberdade do indivíduo e negar-lhe a coisa mais preciosa da vida, a liberdade. Aparentemente, não há mais do que força bruta aí.
Mas como esclarecemos acima, trata-se de uma lei natural e um decreto da Providência, pois como a Providência nos compele a conduzir uma vida social, é óbvio que cada pessoa é obrigada a assegurar a existência e o bem-estar da sociedade. E isto somente pode acontecer pela imposição da conduta de ‘seguir a maioria’, e ignorar a opinião do indivíduo.
Então vocês podem ver que esta é a origem de todo o direito e a justificação para que o coletivo tenha que expropriar a liberdade do indivíduo, contra a sua vontade, e colocá-lo sob a sua autoridade. Assim se entende que no que se refere aos assuntos que não dizem respeito à existência da vida material da sociedade, não há justificativa para que o coletivo roube e abuse da liberdade do indivíduo de forma alguma. E se o coletivo fizer isso, será considerado assaltante, ladrão, que prefere a força bruta a qualquer direito e justiça no mundo, porque aqui não se aplica a obrigação do indivíduo obedecer ao coletivo.
Resulta que no que se refere à vida espiritual, não há obrigação natural para que o indivíduo se submeta à sociedade de modo algum. Ao contrário, aqui se aplica uma lei natural sobre o coletivo, para que se submeta à autoridade do indivíduo. E está explicado no artigo ‘A Paz’, que há dois modos pelos quais a Providência nos formatou e nos cercou, de modo a nos conduzir à finalidade. Eles são:
E já que o mais altamente desenvolvido na geração é definitivamente o indivíduo, resulta que quando pessoas comuns desejam se libertar da terrível agonia, e adotar o desenvolvimento consciente, que é o caminho da Torah, eles não têm escolha além de se submeter, a si e à sua liberdade física, à disciplina do individual, e obedecer às ordens e remédios que essa disciplina lhes oferecerá.
Então vocês podem ver que em assuntos espirituais a autoridade do coletivo é contrariada, e a lei de ‘Seguir o indivíduo (desenvolvido)’ é aplicada. Pois é fácil de ver que os desenvolvidos e educados em cada sociedade são sempre uma pequena minoria. Resulta que o sucesso e o bem-estar da sociedade está nas mãos de uns poucos.
Assim o coletivo é obrigado a observar meticulosamente a opinião dos poucos, para que não pereça neste mundo. Pois é preciso saber com absoluta certeza que as opiniões mais desenvolvidas e verdadeiras nunca estão nas mãos da autoridade coletiva, mas sim nas mãos dos mais fracos, ou seja, nas mãos de uma minoria impossível de identificar. Pois toda a sabedoria e tudo o que é precioso, vem ao mundo em pequenas quantidades. Assim nós somos advertidos a preservar as opiniões de cada indivíduo, por causa da inabilidade do coletivo de dizer o que é certo ou errado entre eles.
Além disso precisamos acrescentar que a realidade oferece aos nossos olhos uma extrema contradição entre os assuntos físicos, e os conceitos e idéias relativos ao assunto acima. Pois o tema da unidade social, que pode ser uma fonte para toda a alegria e sucesso, é praticado somente entre corpos, e assuntos corporais nas pessoas, e a separação entre eles é a fonte de toda calamidade e infortúnio.
Mas no que se refere a conceitos e idéias, é o completo oposto. Isso quer dizer que a unidade e a falta de crítica é considerada a fonte de todas as falhas e o maior obstáculo para todo o progresso e fertilização didática; pois extrair as conclusões corretas depende principalmente da multiplicidade de desacordos e separação entre opiniões. Quanto mais contradições haja entre opiniões, quanto mais crítica, mais o conhecimento e a sabedoria aumentam e os assuntos se tornam mais apropriados ao exame.
A degeneração e declínio da inteligência têm origem somente na ausência de crítica e desacordo. Pois é evidente que toda a base para o sucesso físico está na medida da unidade da sociedade, e a base para o sucesso da inteligência e do conhecimento, é a separação e o desacordo entre os seus membros.
Resulta assim que quando a humanidade tiver sucesso no que se refere ao sucesso dos corpos, quer dizer, trazendo-os para o grau de completo amor ao próximo, todos os corpos no mundo se unirão em um único corpo e um único desejo. E somente então toda a felicidade destinada à humanidade será revelada em toda a sua glória. Mas para que isso possa acontecer, precisamos tomar o cuidado de não aproximar demais as opiniões das pessoas, pois isso poderia acabar com o desacordo e a crítica entre os sábios, pois o amor do corpo traz consigo o amor à mente. E se a crítica e o desacordo desaparecerem do mundo, todo o progresso em conceitos e idéias cessará também, e a fonte do conhecimento no mundo secará.
Esta é a prova da obrigação de cautela com a liberdade do indivíduo no que se refere aos conceitos e idéias. Pois o total desenvolvimento da sabedoria está baseado nessa liberdade do indivíduo. Então, somos advertidos a preservar muito atentamente cada forma entre nós, a que chamamos ‘indivíduo’, que é a força particular de uma única pessoa, genericamente chamada ‘o desejo de receber’.
Todos os detalhes que esse desejo de receber inclui, nós definimos como ‘o leito’, ou o Primeiro Fator, cujo significado inclui todas as tendências e costumes herdados de seus ancestrais, que descrevemos como uma longa corrente consistente de milhares de pessoas que já estiveram vivas, que permanecem uma no topo da outra, pois cada uma delas é uma gota essencial de seus ancestrais. E essa gota, que cada um de nós recebe, traz consigo as posses de seus ancestrais, em sua ‘medula oblongata’ (o cérebro estendido), também chamado subconsciente. Então o indivíduo diante de nós tem em seu subconsciente todos os milhares de heranças espirituais de todos os indivíduos que aparecem nessa corrente, que são seus ancestrais.
Então, assim como diferem as faces das pessoas, diferem suas opiniões. Não há duas pessoas na terra cujas opiniões sejam idênticas, porque cada pessoa tem uma posse grande e sublime, que ela herda de seus ancestrais, da qual os outros não têm nem mesmo uma pequena parte.
Assim, todas essas posses são consideradas a propriedade individual, e a sociedade é advertida a preservar seu sabor e espírito, e evitar que o ambiente os esmaeça, e a preservar a integridade da herança de cada indivíduo. Então, a contradição e a diferença entre os indivíduos permanecerão para sempre, de modo a assegurar a crítica e o progresso da sabedoria por toda a eternidade, pois isso é o real benefício e o eterno desejo da humanidade.
Após temos chegado a uma certa porção de reconhecimento da individualidade do homem, que nós determinamos como uma força e um ‘desejo de receber’, como o ponto essencial do simples ser, nós também esclarecemos, com todas as suas fronteiras, a medida da propriedade original de cada corpo, que definimos como ‘herança ancestral’. E isso significa que todos os poderes das tendências e dos atributos vieram a esse ‘leito’ por herança, que é a primeira substância de todo homem, a gota preliminar de sêmen de seus antepassados. Agora, podemos esclarecer os dois aspectos do desejo de receber.
Para começar, precisamos entender que essa individualidade, que nós definimos como o ‘desejo de receber’, embora seja a própria essência do homem, não pode existir na realidade nem mesmo por um segundo. Por isso ela é chamada de força potencial, ou seja, antes que ela se torne efetiva, ela somente existe em nosso pensamento, o que significa que somente o pensamento pode defini-la.
Mas de fato, não pode haver nenhuma força efetiva no mundo que esteja adormecida e inativa. A força somente existe no mundo quando é revelada em ação. Do mesmo modo, vocês não podem dizer sobre uma criança que ela tem muita força, quando ela não pode levantar nem mesmo um pequeno peso, mas é possível dizer que essa criança, quando crescer, terá muita força.
Porém, nós dizemos que essa força que nós encontramos no homem quando ele cresce já estava presente em seus órgãos e em seu corpo quando ele era uma criança; a força estava oculta, não era aparente.
É verdade que em nossas mentes nós podemos determinar ‘a força futura’, e é assim, porque a mente o afirma. Porém, no corpo da criança, atualmente, de fato não há nenhuma força, pois nenhuma força é revelada pelas suas ações.
Da mesma forma, com o apetite: ele não aparece na realidade do corpo humano, quando os órgãos não podem comer, ou seja, quando ele está saciado. Mas mesmo quando a pessoa está saciada, há a força do apetite, embora esteja oculta no corpo. Após algum tempo, quando a comida tiver sido digerida, o apetite reaparecerá, e se tornará, de força potencial, em força efetiva.
Porém, uma tal determinação de uma força potencial, que ainda não foi revelada, é uma elaboração do pensamento; isso não existe na realidade, porque quando saciados, nós sentimos com certeza que a força do apetite desapareceu e se vocês a procurarem, não a encontrarão de modo algum.
Resulta que não podemos estabelecer uma força potencial como algo que exista por si, mas somente como um predicado. Isso quer dizer que quando a ação acontece na realidade, nesse momento a força é revelada no interior da ação.
E que seja por meio da dedução, nós necessariamente encontraremos aqui duas coisas, um sujeito e um predicado: a força potencial e a força efetiva, em que o apetite é o sujeito e a figura imaginária do prato é o predicado e a ação. Na realidade, porém, eles aparecem como um só. E nunca ocorrerá que uma pessoa sinta apetite sem imaginar o prato que ela deseja comer, de modo que esses são dois aspectos da mesma coisa. A força do apetite precisa ser erguida dessa imagem. Nós chamamos a essa ação de ‘desejo’, o que significa a força do apetite revelada na ação da imaginação.
E assim também no que se refere ao nosso tópico, o desejo geral de receber, que é a própria essência do homem. Ele se revela e existe somente revestido nas formas dos objetos que são prováveis de receber. Pois então ele existe como o sujeito, e em nenhum outro modo. Nós chamamos essa ação de Vida, o que significa a Subsistência do Homem, ou seja: a força do Desejo de Receber se reveste e age no interior dos objetos desejados. E como explicamos, essa medida de revelação é a medida de sua vida, no ato que chamamos Desejo.
Do exposto, podemos entender claramente o verso: ‘E o Senhor formou o homem do pó do solo, e soprou em suas narinas o sopro da vida; e o homem tornou-se uma alma (Nefesh) viva (Chayah)’ (Gen. 2,7). Aqui encontramos duas criações:
E o verso diz que o homem foi criado, como poeira do solo, isto é uma coleção de partículas nas quais reside a essência do homem, significando seu ‘desejo de receber’. Esse desejo de receber está presente, como esclarecemos, em cada partícula da realidade, da qual emanam os quatro tipos: inanimado, vegetativo, animado e falante. Nesse aspecto o homem não se diferencia de nenhuma das outras partes da criação, como o verso diz: ‘pó do solo’.
Mas vimos que essa força, chamada o Desejo de Receber, não pode existir sem revestir um objeto desejado e agir nele, uma ação chamada Vida. E assim chegamos a que, antes que o homem tivesse chegado às formas humanas de recepção do prazer, que diferem daquelas de outros animais, ele era considerado como uma pessoa sem vida, morta. Isto é assim porque seu desejo de receber não tinha lugar para revestir e expor suas ações, que são as manifestações da vida.
E está dito: ‘e soprou em suas narinas o sopro da vida’, que é a forma geral de recepção apropriada para o homem. As palavras ‘sopro da’ em hebraico assumem o significado de ‘valor’, e a origem da palavra ‘sopro’ é entendida do verso: ‘O espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso deu-me vida’ (Job, 33,4). A palavra alma (Neshamah) tem a mesma estrutura das palavras ‘ausente’ (Nifkad), ‘acusado’ (Ne’esham) e assim por diante.
E o significado das palavras ‘e soprou em suas narinas’ é que ele inseriu em si mesmo uma alma (Neshamah) e uma apreciação da vida, que é a soma total das formas que valem a recepção, segundo seu Desejo de Receber.
Então essa força, o desejo de receber, que se continha em suas partículas, encontrou um lugar para se revestir de uma forma e agir, o que significa, naquelas formas de recepção que ele atingiu do Senhor, e essa ação, como dissemos, é chamada Vida.
E o verso conclui: ‘e o homem tornou-se uma alma viva’. Isto quer dizer que, no momento em que o desejo de receber começou a agir na medida daquelas formas de recepção, a vida instantaneamente se revelou nele, e ele ‘tornou-se uma alma viva’. Porém, antes de atingir essas formas de recepção, embora a força do Desejo de Receber tenha sido impressa nele, ele ainda é considerado um corpo sem vida, porque não há lugar para que a ação venha a ser.
E como dissemos acima, embora a essência do homem seja apenas o Desejo de Receber, ele ainda é considerado a metade do total, porque ele precisa se revestir numa realidade que surja em seu caminho. Por essa razão, o desejo de receber e a imagem de sua posse são de fato a mesma coisa, pois de outro modo ele não teria o direito de existir nem mesmo por um momento.
Assim, quando a máquina do corpo está em seu auge, ou seja, até a meia-idade, seu ‘ego’ mantém-se erguido em toda a altura que lhe foi impressa no nascimento. Por causa disso ele sente em si mesmo uma grande quantidade de desejo de receber, ou seja, ele quer atingir riqueza, honra ou qualquer coisa que surja em seu caminho. Isso é por causa da perfeição do ‘ego’ humano, que atrai formas de estruturas e conceitos, de que se reveste, e se sustenta através delas.
Mas, quando a metade da vida tiver transcorrido, começam os dias de declínio, que por definição são seus dias de morrer. Isto é porque a pessoa não morre em um instante, assim como foi trazida à vida. Em vez disso, essa vela, sendo o seu ‘ego’, enfraquece e morre pouco a pouco, e com ela morrem as imagens e as posses que ele quer receber.
Daqui por diante a pessoa começa a deixar de lado muitas das posses com que sonhou em sua juventude, e também as maiores posses, conforme os anos vão passando, até que em seus dias de velhice, quando a sombra da morte paira sobre ela, a pessoa se encontra em ‘tempos sem pedido’. Isso é assim porque seu desejo de receber, que é seu ‘ego’, enfraquece e morre e tudo o que sobra é uma minúscula centelha, oculta do olhar, o que significa que não é revestida de nenhuma expectativa de benefício. Assim não há pedido e esperança nesses dias, para nenhuma espécie de recepção.
Então, provamos que o desejo de receber, junto com a imagem do objeto que se espera receber, são uma única coisa. E sua revelação é igual, sua estatura é igual, e assim a duração de seus dias. Porém, aqui há uma distinção significativa, na forma de rendição, na época do declínio da vida. Pois essa rendição não é resultado de saciedade, mas de desespero. Quer dizer que quando o ‘ego’ começa a morrer, durante o tempo do declínio, ele sente sua própria fraqueza e a aproximação da morte. Assim ele deixa de lado e desiste dos sonhos e esperanças de sua juventude.
Observem cuidadosamente a rendição devida à saciedade, que não causa tristeza e não pode ser chamada de ‘morte parcial’, mas como um operador que cessou de operar. De fato o abandono causado pelo desespero é pleno de dor e tristeza, e por isso pode ser chamado de ‘morte parcial’.
E agora, após tudo o que aprendemos, encontramos uma maneira de compreender as palavras de nossos sábios em seu verdadeiro significado, quando eles disseram: ‘Entalhado (charut) nas pedras. Não pronuncie entalhado (charut), mas sim, ‘liberdade’ (cherut), pois eles foram libertados do anjo da morte. Pois como foi dito nos artigos ‘A Revelação da Divindade’ (Matan Torah) e O Vínculo (Ha’arvut), antes da recepção da Torah, eles se propuseram a dar fim a qualquer propriedade privada, na medida em que se expressa pelas palavras ‘Um Reino de Sacerdotes’ (Mamlechet Cohanim), e eles se propuseram a assumir o propósito da criação, de ascender a Ele em equivalência de forma, e como Ele doa e não recebe, eles doarão e não receberão, o que é o maior grau de adesão, expresso pelas palavras Nação Santa, como se diz no final do artigo ‘O Vínculo’.
E assim conduzi vocês a compreender que a essência do homem, seu próprio ser, definido pelo desejo de receber, é somente a metade, e não pode existir senão revestindo-se em alguma imagem de benefício ou em esperança de um benefício. Pois somente então nossa matéria está completa, e pode ser chamada a Essência do Homem.
Resulta que quando os Filhos de Israel atingiram completa adesão, nessa santa ocasião, seus vasos de recepção tinham sido completamente esvaziados de todos os benefícios mundanos, e tinham ascendido a Ele em equivalência de forma. Isso significa que eles não tinham nenhum desejo de possuir algo para si mesmos, mas somente na medida em que eles pudessem doar contentamento e que seu Autor pudesse se deliciar com eles.
E quando seu desejo de receber se revestiu da imagem desse objeto, ele se revestiu e se vinculou a ele em uma completa unificação. Assim, certamente eles se libertaram do anjo da morte, pois a morte é necessariamente um aspecto de ausência e negação da existência de um certo objeto. Mas somente enquanto há uma centelha que deseja existir para seu próprio prazer, pode-se dizer que essa centelha não existe, mas sim que está ausente, e morta.
Mas se não houver uma tal centelha no homem, mas todas as centelhas de sua essência se revestirem da forma de doação de contentamento ao seu Autor, então ele não estará ausente nem morto. Pois mesmo quando o corpo se anula, ele somente se anula sob o aspecto da recepção de auto-gratificação, no qual o desejo de receber está revestido, e não tem direito de existir senão através dessa recepção.
Porém, quando a pessoa anseia pelo propósito da criação, e Deus tem prazer nela, pois Sua vontade está sendo cumprida, a essência do homem se reveste do contentamento do Criador e ele atinge total imortalidade, assim como Ele. Resulta que agora ele atingiu a liberdade do anjo da morte. Como se diz no Midrash: ‘Liberdade do anjo da morte’. E na Mishnah: ‘Entalhado (charut) nas pedras’. Não pronunciem ‘charut’ (entalhado), mas sim ‘cherut’ (liberdade), pois não há homem livre, senão aquele que estuda a Cabala.
Autor: Cabalista Rabbi Yehuda Ashlag