Numa certa cidade havia uma casa grande e velha rodeada de muros de pedra e com um portão de entrada. A casa ficava perto do parque municipal e as crianças que lá brincavam perguntavam: “Mamãe, quem mora nessa casa”?
“Ninguém, meu querido, a casa esta vazia”.
E na verdade, em todas as outras casas morava gente, mas nessa casa não morava ninguém. Faz muito tempo que ninguém entra nela. A casa parece fechada e lacrada e nenhuma pessoa ousava entrar nela.
Os que passavam perto da casa olhavam para ela sem entender: ”Que casa estranha? Uma casa tão grande e vazia, sem ninguém...”
A casa se perguntou por que ela é diferente:
“Talvez porque a pintura das janelas esteja descascando?
Talvez o cata-vento esteja torcido, perguntou o telhado?”
A casa estava tão chata e triste que os objetos começaram a brigar. As colheres discutiam com os garfos para saber quais dos dois eram os mais importantes. As escadas se queixavam do tapete que acumula poeira. A pia se surpreendeu porque não havia água no cano. Até mesmo a pequena lâmpada de mesa apelidou o lustre de “Apagado”.
"A casa recebeu todas as brigas e entendeu que tinha que fazer alguma coisa. Mas o quê?
“Perguntou a chaminé que aquece. Ela é muito sábia e velha. Eu me lembro que quando me construíram primeiro fizeram a chaminé e só depois construíram o resto dos quartos”. Mas a chaminé estava dormindo profundamente e não foi fácil acordá-la. A casa tentou gritar através da abertura da chaminé, mas ela apenas moveu alguns pedaços velhos de carvão e levantou fuligem no ar. A casa se voltou para a louça da casa: “Vamos acordar a chaminé todos nós juntos para que ela nos ajude e nos diga o que fazer. Vamos louça façam um pouco de barulho!” E ai começou... os pratos clicaram, os castiçais baterem, as facas se chocaram o lustre grande tocou em seus cristais e até as camas arrastaram seus pés sobre o piso. Eles fizeram tanto barulho que até os pombos que estavam em cima do telhado voaram assustados.
Finalmente a chaminé acordou e perguntou:
“É muito difícil dormir aqui, vocês me acordaram?”.
“Eu preciso de seu conselho”, respondeu a casa. “Alguma coisa não está bem comigo, mas o que? Eu mesma não sei”.
“É muito simples”, respondeu a chaminé.
“Se é assim, qual é o motivo?
“Tem uma regra muito importante: Você tem que compartilhar sua vida com outros. Veja bem, quando me acendem, eu não guardo o calor pra dentro, mas eu o passo imediatamente para todos. Todas as casas da cidade também passam o calor delas e a “sensação de família” aos seus inquilinos. E você está sozinha e não tem ninguém com quem compartilhar o seu calor e ambiente familiar. Por isso você está triste e solitária, e os utensílios da casa estão brigando”.
A casa ficou espantada. Ela resolveu adotar a regra da velha chaminé.
Na manhã do dia seguinte, ela abriu todas as cortinas e as janelas e acordou os amigos. Os espelhos não acreditavam que a luz do sol se refletia neles.
As discussões pararam imediatamente.
“Escovas! Panos! Baldes! Lavem o chão e limpem a poeira!
E não economizem água!”
Em pouquíssimo tempo a casa brilhava de tão limpa.
“Mesa de jantar! Prepare-se para receber os convidados!”
Num piscar de olhos os pratos se arrumaram em cima da mesa.
Os garfos, as facas e as colheres ocuparam seus lugares ao lado dos pratos, e os copos de vidro ficaram delicadamente ao lado deles.
A mesa de jantar queria dançar de tanta alegria, mas ficou
quieta no lugar para que nada caísse.
Na hora do almoço, a casa abriu a sua porta de entrada. As pessoas que passavam perto da casa nunca tinham visto uma casa tão bonita e amigavel. Eles entraram e viram que estavam sendo esperadas dentro da casa.
“Olhem!” chamou uma menina.
“A mesa esta posta!”
A casa lembrou bem a regra que aprendeu da chaminé:
“Precisa compartilhar o calor com os outros”.
Não demorou muito e chegaram inquilinos na casa como nas outras casas.
E desde então, quando todos vão dormir, a casa verifica se tudo esta em ordem, e em seguida sussurra baixinho dentro da abertura da chaminé de cima do telhado:
“Obrigada, velha e sábia chaminé pela sua sábia sugestão
- Compartilhar o calor com os outros”.