Sentindo uma Realidade Diferente
A nossa matéria é o desejo de receber, e ela não muda. A única questão é saber como nós a usamos. Nós podemos usá-la para tirar vantagem de outras pessoas, atrair até nós tudo que parece estar fora de nós, e então, como resultado dessa absorção interna, ver o mundo limitado descrito aos nossos olhos. Por outro lado, nós podemos sair de nós mesmos, com a finalidade de doar para aquilo que supostamente existe fora de nós. Eu digo "supostamente" porque, na verdade, não há nada "fora de nós." Tudo o que existe fora de nós só nos parece como se assim o fosse. Sinceramente, estes são os nossos vasos. A quebra que ocorreu em nossa consciência, em nosso entendimento, nos fez sentir como se eles existessem fora de nós.
Este exercício, onde nos parece que fora de nós existe o inaminado, vegetal, animado e humano, foi intencionalmente feito para nós em primeiro lugar. Para que fossemos capazes de alcançar a qualidade de doação. Se, ao invés de absorvermos deles e nos aproveitarmos deles, nós os tratássemos de modo oposto - com amor e doação -, seríamos capazes de alcançar a qualidade de doação, e sentiríamos uma realidade diferente, uma realidade verdadeira.
Aspirando Corretamente a Meta
Todo o nosso trabalho se resume em alcançar um estado onde a cada instante a coisa mais importante para nós fosse estar em doação, ou conquistar isso. Apesar de todos os eventos que atravessamos, devemos nos certificar a cada momento que a doação seja mais importante que nossas vidas comuns. Nós experimentamos a vida, participamos dela, fazemos tudo o que precisamos fazer, mas a qualidade de doação deve ser a minha prioridade, acima de tudo. E se uma pessoa está constantemente fazendo esforços para se aderir à tendência à doação, para agarrá-la, desejando que ela irá controlá-la, que ela preencherá a sua mente e coração; se ela está preocupado só com isso, apesar da confusão, da desconexão e do ofuscamento, isso indica que ela aspira à meta.
A fim de orientar a pessoa à meta, foi lhe dado uma série de meios. Em primeiro lugar, o grupo. Se ela sente que possui uma tendência a se conectar com eles, a fim de alcançar o objetivo, essa é uma das medidas que indica que ele está aspirando corretamente. Outro meio é o estudo - a pessoa deve se voltar ao estudo e desejar que ele a influencie, como o oxigênio. Ela deve sentir que precisa desta projeção da força de doação, porque esta realmente lhe dá o ar para respirar. E o último meio é a disseminação – a pessoa que aspira à meta sente a importância da doação e a necessidade de receber apoio de outras pessoas; e é por isso que ela dissemina e doa a elas. Aliás, eventualmente, ela doa por cima dos seus próprios vasos. O que é toda a humanidade senão os seus vasos?
Agora, observe como nós vivemos no ódio, no desrespeito, na exploração e na tentativa de destruir e matar nossos próprios vasos. Veja como ainda hoje estamos opostos à verdade.
No entanto, se a pessoa começa a organizar todas as coisas corretamente, eventualmente fora de todas as suas ações, sentimentos e discernimentos, toma forma dentro dela uma demanda interna para manter-se acima de si mesma. Ela quer que a qualidade de doação a oriente o tempo todo, a controle, e que ela só se importe com isso, constantemente. E então, depois de experimentar vários incidentes onde ela teve a oportunidade de se sustentar dessa forma, ela realmente penetra na qualidade de doação, e começa a se estabilizar interiormente.
Olhando o Mundo de Forma Correta
Com a ajuda do desejo de receber em mim, eu posso sentir que eu quero dar. Se eu superar isso, ou seja, essa minha tendência de receber para mim, eu serei capaz de alcançar uma maior vontade de doar, e assim por diante.
O meu desejo de receber é a questão, sem o qual eu não posso alcançar um sentimento de que eu quero doar. Em outras palavras, eu preciso entender que a forma do desejo de receber só pode ser uma das duas: ou para si mesmo, ou para doação. E isso já cria uma nova percepção da realidade dentro de mim, e uma nova atitude; e de repente eu descubro que tudo que eu tenho visto só aparece para mim como se assim o fosse, só me parece dessa maneira, mas, na verdade, a ruptura (quebra) ocorreu apenas dentro da minha mente, dentro da minha percepção, e fez com que eu sentisse que há uma parte chamada "eu" e uma parte que se encontra fora de mim.
Então, eu começo a corrigir a quebra conectando ambas as partes dos vasos - a minha parte e a parte que eu acho que quero tirar vantagem. Eu começo a atraí-las para perto de mim, conectando-as de volta num único vaso coletivo. Como o Baal HaSulam diz, aqui não há nada mais do que um problema psicológico.
Nós devemos distinguir estas inclinações dentro de nós - estudar e não doar, controlar e não doar... Devemos tentar identificar em nós todas as tendências que são opostas à doação e fazer um esforço para examiná-las enquanto for possível, de modo que veremos em nós todas as qualidades de forma clara, todas as personalidades em uso: para receber, para controlar os outros, etc.
Posteriormente, quando eu descobrir que tudo o que está fora de mim é o meu vaso, eu percebo a minha imensa estupidez em tirar proveito delas. Pois, de quem eu estou me aproveitando? Quem eu estou derrotando? Para quem eu estou mentindo? O que estou fazendo? Isso não é diferente de brincar com o meu filho pequeno, a fim de me beneficiar dele, mentir para ele, confundi-lo. É isso que um pai faz para o seu filho?
Claro que não. Mas quando alcançamos a revelação, percebemos que é exatamente isso que queríamos fazer com aqueles a quem achávamos que estavam fora de nós.
Tudo Depende da Preparação
Eu geralmente fico muito doente antes dos congressos, porque é um esforço muito grande para mim. Querendo ou não, eu estou numa preparação interna muito extenuante. Para ser honesto, eu não entendo por que vocês não estão doentes. E vocês devem realmente se perguntar – Eu estou diante de uma ocasião tão grande, onde está o meu medo de que vou realmente aproveitar esta ocasião? Onde está a minha preparação interna, de que eu vou entrar e pegar tudo o que há?
Tudo depende da preparação. Portanto, além da preparação externa nós devemos nos preparar internamente. Essa é a coisa principal. O fato de que a impressão que alcançamos em cada congresso desaparece, só indica que estamos subindo para outro nível. É sempre assim, até que a pessoa entre na espiritualidade. Sempre lhe parece que tudo realmente a abandona e desaparece, como a água se derramando sobre a areia. Mas, na verdade, "um centavo e outro resultam numa conta grande", e essa conta eventualmente dispara.
Isto se assemelha a um exemplo dado pelo Baal HaSulam sobre um homem que entra num tesouro com uma caneca pequena, e toda vez que ele sai alguém esvazia a caneca, até que ele não saiba mais o que fazer. Porém, mais tarde, dizem-lhe - "Tudo o que esvaziamos é seu".
Portanto, embora haja uma suposta descida e uma decepção após cada congresso, é preciso que ocorra dessa forma, por um lado. E por outro lado, nós devemos entender que foi um resultado positivo. Mas tudo depende da preparação. E você tem mais tempo para se preparar. Eu tenho estado nessas preparações por um longo tempo e eu recomendo isso a todos. Porque o vaso no qual receberemos a espiritualidade é a conexão entre nós. E o congresso é exatamente a ocasião da qual podemos extrair a impressão e a integração. Isto é tudo de dentro. Eu não olho para os rostos. Eu ainda nem estou familiarizado com os nomes. Em vez disso, eu vejo o desejo interior. Portanto, o desejo de vivê-lo, de se conectar a ele, deve ser totalmente doentio.